quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Amor? Dai a Ná!

     Guardou os morangos com todo cuidado esperando o momento ideal de come-los. Acontece que o tempo passou, os morangos criaram fungos e apodreceram. O maior problema é que ela fez o mesmo com seu amor...
     Ná era uma garota diferente das outras de sua idade. Havia nela uma maturidade precoce. Um gosto exótico. Nela, mas necessariamente no contorno do seu olhar, estava a sútil vontade de ser diferente e era essa vontade sútil que lhe fazia naturalmente diferente. Agora uma coisa lhe mantinha igual as outras pessoas que havitavam o mundo junto com ela. Não sabia lhe dar com o Amor. Não é que não soubesse amar. É que os conceitos de amor, as possibilidades de amor, as teorias de amor, as simpatias de amor eram tantas que ela nem sabia mais como conjugar. As pessoas tornaram o Amor tão complexo que ficou impossivel amar. Isso torturava os pensamentos e sentimentos de Ná.
     Poderia eu, aqui, citar qualquer outra fruta, qualquer outra garota ou até mesmo uma mulher fruta. O que acontece é que há algum tempo o morango cheio de seu vermelho me seduziu. Mesmo com sua pele áspera e gosto azedo. Já reparou no formato de coração que alguns morangos tem? Eu reparei. E não pude evitar fazer uma metáfora envolvendo morango e amor. Repare o formato que lembra coração, o vermelho cor de amor, o áspero que é amar e não perca de vista o quão azedo pode ser o amor quando não correspondido. Posso está divagando loucamente, entretanto é consenso que morango e leite condensado é uma combinação perfeita. E que morango é sempre melhor acompanhado de algo doce. Era aqui que queria chegar. Às vezes amamos sem nos dar conta do azedo que contém o morango. "Morangos são bonitos e deliciosos". "O amor é tão bom!". "Não existe nada melhor que o amor!". Colocamos tanto leite condensado no amor que não percebemos a camada áspera que cobre o azedo que pode ser o amor. E devoramos caixas de morango sem perceber que isso só é agradável e possível com o leite condensado. Desta mesma maneira adoçamos o amor. Com Principes Encantados, Belas Adormecidas, Contos de Fada, Lendas e Mitos... Voltando ao inicio do parágrafo. Já pontuei o que me fez falar sobre morangos. Agora vamos a Ná.
     Ná ganhou uma caixa de morangos de sua mãe. Guardou-a na geladeira. Há três anos fez algo parecido com o amor que ganhou, não se sabe de quem, mas que ela sentia por um rapaz ainda muito moço cronológica e espiritualmente. Hoje ela tirou o amor da geladeira e resolveu servi ao rapaz com leite condensado. Entregando todo o amor dedicado e carinhosamente guardado na geladeira longe de qualquer perigo que o violasse. O fato é que o moço se lambuzou de leite condensado e não deixou nada para Ná. Ela ficou apenas com a parte azeda. Três anos não parecia tempo bastante para apodrecer amor posto na geladeira. Apenas tempo de esfriar. Não quero dar prazo de validade ao amor. Longe de mim. Sei apenas que quando se trata de algo especial o tempo é relativo e se três anos não acabou com o amor de Ná, três dias apodreceram por completo os morangos.
     A pele áspera do morango foi tomada por uma camada mácia de pelúcia. Talvez o morango estivesse no seu auge. No melhor de seus momentos. Porém, seu vermelho não reluzia mais e nem ele poderia ser amado naquele estado. Não tinha serventia nenhuma. O amor, disse eu, uma vez a Ná, é como fruta que guardamos esperando o momento especial para saborear, passamos a ter um cuidado enorme com ela e ela apodrece. Deixando assim só a ideia de como seria gostoso ter comido aquele morango que um dia foi vermelhamente apaixonante.
     Ela jogou os morangos fora. Pensou em pegar uma maçã. Refletiu e viu que não era interessante. Das várias histórias que ouviu, no mínimo duas, a maçã não carregava valor positivo. E como ela não sentia vocação para Eva e menos ainda para Branca de Neve. Fechou a geladeira. Enxergou a bomboniere que estava sobre a mesa completamente colorida. Cheia de jujubas de todos os sabores, inclusive morango. De todos os formatos, inclusive corações. De todas as cores, inclusive vermelho e eram todos artificialmente doces como o Amor.
     A moça se dopou com jujubas, sofreu os primeiros instantes pensando em solidão eterna, desesperou querendo não mais amar, balbuciou um sorriso leve no cantinho da boca e adormeceu.
     O morango apodreceu. A garota adormeceu. Eu decidi por aqui parar. Você deve está se perguntando:
     - E o amor?
     E eu respondo:
     - Dai a Ná!
De: Efferson Mendes

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