sábado, 31 de dezembro de 2011

Canto dos Pássaros

Silenciamos o canto dos pássaros pelo simples fato de se fazer ouvir nossa voz árida e cruel. Destruímos a possibilidade bela de dançar o canto de felicidade deles, por causa da inconstância de nossos sentimentos que não sossegam apenas em saber que eles, o pássaro e seu canto, podem garantir nossa felicidade. Inconstância vinda do egoísmo. Egoísmo de não querer receber felicidade. Construída pelo instinto milenar que é tão nosso, tão humano, de sempre estar em busca de ser feliz. Preferimos o risco, o buscar... Se encontrarmos alguém capaz de nos oferecer felicidade eterna mudamos de calçada. O medo de não saber o que fazer, de não saber lidar depois com ela é maior.
As pessoas que a carregam dentro de si. Que a distribuem são as que mais sofrem. Não conseguem entender essa aversão, esse bloqueio de não querer receber felicidade. Estes são pássaros que não entendem a negação de seu canto.
Eu espantei o passarinho que ousava cantar para mim. Fui cruel. Ele acreditou e insistiu em cantar para mim. Me fez crer que era capaz de cantarmos juntos. Ele foi fiel e intenso em nossa relação. Eu ser racional tolo queria entrar no mesmo tom. Não acreditei em uma harmonia entre nós.
Aprendi muita coisa com ele. A harmonia existe mesmo entre os diferentes. Desejo eu, que o pássaro compreenda minhas palavras como eu compreendi o seu canto e recebi sua felicidade. Ainda tenho muito que retribuir. Talvez não cantando, mas dividindo outras formas de parceria, de amor e de estarmos juntos. Que possamos encontrar modos de sermos felizes sem nos machucarmos. Que acolhamos as decisões por maior que seja a dificuldade. Que recebamos de mãos abertas a felicidade que o outro tem a oferecer e consigamos retribuir da melhor maneira, dentro de nossos limites.  Seguirei então na esperança de oferecer e receber momentos felizes. Esperando ansioso pelo reencontro com o pássaro. Que onde quer que ele esteja seu canto seja sempre feliz...
De: Efferson Mendes

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Esboço de mim

Sou um perigo para mim mesmo
Sou corpo frágil que se larga
Sou mente sã que ás vezes falha

Sussurros que escuto
O deitado ficar
Meus desejos absurdos
Loucura que quer chegar

A febre que se espalha
Sem sair da minha cabeça
Meu corpo por dentro brasa
Não deixe que eu esqueça

Só me deixe ser
Correr ou parar?
Aflição de querer
Onde vou chegar?

Se reparta em mim
Todas as vidas
O grão que grita
Vontade de ser fim...

De: Efferson Mendes

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

S.E.U. ( Sútil, Erótico e Único )

Diga que me entende
Me faça ser seu
Me ame, me bate
Me refaça no teu...
Corpo eu... Deixe!
Exploda o que implode
Em mim.
Faça-se céu
Me explore
Deixe escorrer no corpo
O nosso mel...

Nos teus poros adentrar
Faça-me seu
Quero em tuas veias pulsar
Toma-me. Possua-me.
Una-me a ti.
Seja feito um só corpo
O que outrora
N'outras estórias foi separado
Não sejamos clichê
Mas me faça
De gato e sapato.

Seja eu... Seu louco
Seu poeta e safado.

De: Efferson Mendes

sábado, 5 de novembro de 2011

15 de Outubro de 2011

     Teve a sensação de ser especial. Conseguiu reunir todos seus amigos. Inclusive a Praia, o Mar, o Céu, a Noite, as Estrelas e a Lua. Não era mago, nem bruxo. Admirava quem o era. Mas naquele momento utilizou todo seu íntimo de forma verdadeira e sua intuição (fruto de sua relação com o Mundo). Abriu mão do seu egocentrismo e dividiu a noite das suas duas décadas com todos ali.
     No início subestimou-os. Havia esquecido de que não era o único que possuía uma ligação com o Mundo. Achou que a capacidade de embriagar-se de pensamentos, loucuras e devaneios para sentir-se livre apenas lhe pertencia. Enganou-se ou no mínimo, se aquela capacidade era seu domínio particular, ele contaminou a todos com seus delírios de Humano Bolha de Sabão. Delírios de alguém que tem carência do Mundo. De fato as pessoas a quem o Humano Bolha de Sabão amava compartilharam e desfrutaram de seus delírios. Embriagaram-se dos seus devaneios. Foram livres. Tornaram-se protagonistas desta história. Ao lado destes seres ele descobriu a potência que a humanidade tem de surpreender nas vivências.
     Ele parou junto à noite. Contemplou as Estrelas, a Lua, o Céu e o Mar que lhe envolviam. Percebeu o toque humano que havia em meio aquela Natureza. Os grandes castelos erguidos. Torres querendo aproximar-se do Céu. Viu o quanto era, o quanto somos irrelevantes diante da imensidão do seu velho conhecido. Descobriu que era um pontinho imperceptível para seu velho conhecido e que este por sua vez era um pontinho imperceptível azul no meio do Infinito.
     Quis gritar para a humanidade:
     "Abram suas janelas, portas, saiam de suas casas, larguem seus trabalhos enquanto há vida na Terra. Enquanto a Terra é viva. Enquanto se vive na Terra. Enquanto existe amor e ela quer nos dar."
     Não se fez necessário dizer isso. Viu o inesperado. Seu desejo estava refletindo, proliferando-se, reproduzindo-se nas atitudes das pessoas que ali estavam.
     Acreditou que estava em contato com o Infinito, por que o Universo conspirava junto aos seus desejos. Havia sorriso, sensibilidade, toque, música, dança e incontáveis reações nos seus amigos. Sentiu-se o Todo, com todos.
     Você talvez estivesse dormindo na noite do dia 15 de outubro de 2011. Eles experimentavam, sentiam, eram com o Mundo. Ele, que também era eles, deixou seduzir-se pela dança da vida. Vida que trouxe a Chuva. Chuva que os banhou. Ele e eles despertaram e abriram espaço para a Natureza se recompor. Tomaram seus rumos, suas vidas. Não eram mais os mesmos. Eles compreendiam, agora, o Humano Bolha de Sabão. E o Humano Bolha de Sabão, com seus recém chegados vinte anos, do seu quintal, contemplou o nascer de um novo Sol.

De: Efferson Mendes

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Noite Dessas

     Entrei em casa. Solitário. Passei pela sala. Não queria ser notado. Nem precisei me esforçar. A televisão possuia um colorido maior que o meu. Cheguei no quarto. Larguei minha bolsa. Acendi a luz. Deitei em minha cama. Gosto do meu quarto. Gosto do desarrumado que ele tem. Embora ninguém compreenda que aquela aparente bagunça sou eu. Que aquele cheiro abafado de morfo, que as roupas sujas misturadas com as limpas, que minhas poesias, pápeis, anotações, livros, meias sujas e poeira são parte do meu corpo que se larga, mergulha na transversalidade dos diversos mundos, das diversas pessoas, da diversidade dos "eus" que me completam, me compreendem, me fazem complexo, me deixam perplexo e motivam-me usar o instinto como orientação. O meu quarto, o meu mundo, as minhas relações são o lado mais humano de mim.
     Naquela noite sentia falta do contato, da voz e do colorido que me trazem as pessoas. Deitado na cama, observando o teto do meu quarto. Me restou o clarão da luz fluorescente. Me restou não descreve bem. Diminui a importância que aquela luz fluorescente branca teve na transcendência que vivi naquele momento. Sim. Transcendi. Olhava para o teto, necessariamente para à luz e aos poucos me sentia menos meu. Menos dono de mim. Eu, cada vez mais parte desse Mundo. Fui sungado pela luz. Agora estava conectado com o Mundo. Havia um gosto bom na boca. Podia senti-lo em cada um dos poros do meu corpo. Desejei amar o Mundo. Amar com o Mundo. Amar todo o Mundo. E eu tenho certeza que naquele momento verdadeiramente amei. Não possuo ainda uma palavra que descreva. Talvez orgasmo. Orgasmos. Mas isso ainda é muito pouco.
     Quando dei por mim tinha amanhecido. Estava do outro lado da cama. estava bem. Estava muito bem. Sim, eu estava. Simplesmente estava.
      Eu. Eu fui mais eu. Numa noite dessas... Eu.

De: Efferson Mendes

sábado, 22 de outubro de 2011

Reflexos no Papel

     Caminho sobre a incerteza. Refletem no papel as lágrimas, os sentimentos e acontecimentos meus. Entrego-me a cada palavra. Grito sem medo o que sou em cada frase, mesmo sem ter certeza. Chorando numa folha em branco para que não escutem meu pranto. Tenho seguido mostrando a força que não tenho, que não domino.
     Hipócrita de mim mesmo. Poeta de minhas dores. Atuo num altruísmo de fachada. Sou eu, egoísta, egocêntrico... Meu ponto de vista mais alto é o umbigo meu.

De: Efferson Mendes

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Terra Brasil

No meio das Américas
Pariu uma mãe gentil
Das dores do parto
Nasceu a terra Brasil

Terra de tamanho vasto
De infinito verde e azul
Uma natureza que se
Espalha de norte a sul

Terra sem dono
Terra de índios e animais
Terra que nunca viu humano
Foi descoberta por outros canibais

Antropofagia? Que ultrapassado
Esse bicho índio
O europeu é evoluído
Importou o genocídio

Trouxeram negros pra ser escravos
Os índios catequizaram
Oh, meu Deus quanta bondade!
Agora serão gente de verdade

De negros escravizados
A afro-brasileiros
Morenos, pardos
E pobres assalariados

De índios acolhedores
A objetos de pouco valor
Daí em diante bonecos de porcelana
Arte pra museu expor

Brasil de muitos povos
E vários mitos
Brasil de muitos pobres
E poucos ricos

Brasil de incríveis
Belezas naturais
Brasil de tamanhas
Diferenças sociais

Brasil do carnaval
Brasil de samba e bunda
Brasil da Amazônia
Brasil de futebol e luta

Brasil das verdes florestas
Do amarelo esperança do teu povo
Do azul dos teus mares
Do branco acinzentado de São Paulo

Ainda te falta o vermelho
O vermelho de luta
O vermelho de mártires
O vermelho de índios e negros

Nosso Brasil evoluiu
Novas senzalas construiu
Em nome da paz
Negros da favela retirou
E atrás das grades os colocou

Brasil nova Roma
Nova raça e etnia
Trilhando o destino
Com sua autonomia.

De: Efferson Mendes

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Meus Vestígios

Não tenho código de barras
Não sou produto
Não tenho preço
Sou homem livre!

Gosto do ar fresco a me tocar
Ando pelo mundo
Buscando saberes, amores
Saciando prazeres, não horrores

Gosto da essência do ser
Só me conhece
Quem me olha profundo
E ainda assim restará dúvidas

Por onde passo
Deixo um pedaço
Pistas de mim...

Não me encontrarás
Não estou perdido
Se achas que me encontrou
Engano seu
São meus vestígios...


De: Efferson Mendes

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sobre amizade e balões de festa

Começo pontuando que você não tem a mínima obrigação de concordar comigo e que não és também obrigado a ler até o fim. Quero deixar bem claro que isso não é um pedido de perdão. Confesso que tem uma parte de apelo emocional, mas antes de tudo é o que sinto, são palavras sinceras e observações que construí aos poucos, durante todo o tempo que conheço você.Se me perguntarem “você tem amigos?” direi que tenho sem pensar duas vezes. Agora se a pergunta for “o que é amizade?”. Sou sincero, não saberia descrever. Mas meu amigo, tu conseguistes. Me fez encontrar algo. Sim, você. Embora não saiba és responsável pela idéia louca que me veio na cabeça de comparar amizade com um balão de festa.
Entenda. Balões de festa possuem um colorido de um brilho inflável feliz que reluz a diversidade dessas pessoas há quem somos apegados, que amamos, que nos fazem sentir ciúmes, que nos causam raiva e até choramos por elas, que alguém as nomeou de amigos. Balões e amigos nos cativam rapidamente. Tiram de nós o mais profundo, puro e pueril sorriso num piscar de olhos. Eu diria melhor, em uma rápida passagem de olhar. Bons amigos são como um cacho de bolas. Estão sempre no alto e rodeado por outros balões.
Cada amigo é como um balão vazio. A amizade é assim, precisa ser preenchida com muito cuidado, delicadeza para que não estoure. Passando do limite e estourando não tem como voltar atrás. O que sobrará desta amizade serão apenas alguns pedaços de borracha sem vida. Existem balões que são difíceis de encher, que tomam todo o nosso ar, no entanto quando cheios são os mais gratificantes. Há aqueles que vem com um furo, esses podemos até insistir e encher. Das duas uma, ou ele estoura quando está sendo preenchido, ou estará sempre esvaziando até secar e não existir ar dentro. Acredite, a vida como um pacote de balões contém uma porção maior do que se pensa desses furados. Tem também os que vem com falhas, esses exigem muito cuidado. São dez vezes mais frágeis que quaisquer outros. Mas valem a pena embora às vezes se desfaçam em pouco tempo e até sem motivo.
Os amigos de verdade, O VERDADEIRO AMIGO, está em extinção. Sumiu do mercado. Ficou fora de moda. Perdeu seu lugar na festa da vida. Ele é cafona, brega, retrógrado e também o mais gostoso de todos. Sim, ele é aquele que merece destaque na festa. Ele tem o seu momento, diga-se de passagem, que é um dos momentos mais esperados. Este atinge um tamanho maior que o comum e é preenchido não só de ar, mas de balas, doces e surpresas. Há de se fazer uma observação. Ele tem o momento certo de ser estourado. Morte pública. É uma espécie de "Cristo" para os outros balões. Porém o seu sacrifício vem com vida, exala ressurreição, multiplica felicidade, produz olhos brilhantes e corações acelerados.
A amizade tem beleza serena e fragilidade de um balão. Pena que às vezes nos comportamos como garotos em final de festa e os estouramos descontroladamente sem reparar o colorido de um brilho inflável feliz que reluz a diversidade dos amigos.
Espero que tenhas lido até o fim...                                                             

De: Efferson Mendes

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Alguns Minutos

     Oito e meia da manhã. Naquele momento ele já estava sedento de mudança. Pensou como seria o seu dia, sua semana, seu mês e sua vida inteira.
     Oito e trinta e um. O sol entrava pela janela. Atrapalhava sua visão. O claro lhe incomodava. Fechou os olhos para não ver.
     Oito e trinta e dois. Ouvia apenas o som dos ventiladores. Todo o resto era nada perto do barulho chato dos ventiladores. Tampou os ouvidos.
     Oito e trinta e três. Boquiaberto sentia um gosto fraco, meio amargo, quase sem gosto... Ele não gostava dessa sensação. Salivou e a boca fechou.
     Oito e trinta e quatro. Na sala havia um cheiro desinteressante. Não lhe agradava. Colocou tampões nas narinas. Não queria correr o perigo daquele cheiro desinteressante que não lhe agradava entrar pelas suas vias nasais.
     Oito e trinta e cinco. Já não sentia nada. Nada nesse mundo incomodava-o. Era um ser em um perfeito momento de transcendência. Era a transição. Eram apenas alguns minutos e todos os seus sentidos. Era a eternidade da alma e a transcendência do corpo.

De: Efferson Mendes

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Hig Roma

E fui deixando meus rastros
Procurando o que é meu
Deixando o te amar de lado
Pra ser um pouco mais eu

Amar é atirar-se do alto
Provar o gosto do veneno teu
Nadar por entre os pecados
Que escondem o teu olhar e o meu

Vou seguindo meus passos
Tentando acompanhar os seus
Vivendo todos os seus amores
Esperando a hora do meu

Ouvindo-te
Despindo-me
Querendo-te
Entregando-me...

E você
Desviando-se de mim!

De: Efferson Mendes

terça-feira, 24 de maio de 2011

Vivendo

Acordei.
Respirei.
Pensei:
Sobrevivi mais um dia.

Mentiras sinceras
Felicidade clandestina
Olhos de ressaca
Fazem parte da minha vida.

Sonhando
Sorrindo / Chorando
Brincando
Buscando a arte.

Renascendo fênix.
Descobrindo o mundo.
Metamorfoseando-se.
Assim estou...

De: Efferson Mendes

terça-feira, 10 de maio de 2011

O trauma

     O que você vai ser quando crescer?
     Silêncio. Preciso de silêncio. Agora tenho dor de cabeça. Os segundo parecem eternos, agora. Minha cabeça se partiu em pedaços. Tentei remontar. Tomei alguns comprimidos. Fui surpreendido. Existe um vazio enorme. Embora ela esteja completa, com todos os pedaços, falta algo.
     O futuro é incerto. Eu sou incerto. Tu és incerto. Nós somos todos incertos. INCERTEZA! Isso é demais para nós seres humanos.
     Humanos: Seres dotados de inteligência. Seres pensantes. Racionais. Criaram a lógica. Deve existir uma lógica para tudo. Mas a matemática da vida não é exata. Talvez até seja. O fato é que eu nunca entendi matemática mesmo.
     Sonhos, planos, desejos... Até que ponto são realmente meus?
     Eu era apenas uma criança brincando quando me perguntaram pela primeira vez "o que você vai ser quando crescer?"...

De: Efferson Mendes

Falta...

Falta-me teu toque.
Falta o seu corpo junto ao meu.
Falta. Talvez sejamos isso:
Ausência um do outro.

Falta você do meu lado.
Falta teu abraço.
Falta teu cheiro.
Falta um pedaço.

Falta pertencer.
Falta nos reconhecer.
Não falta querer.
O que nos falta é realmente ser.

Falta suprir.
Falta faltar ar.
Falta não fingir
Que não incomoda você não estar.

Farelo ao pão.
Arroz ao feijão.
Lápis ao papel.
Tudo ao nada.
Alguém ao ninguém.

Você à mim...

De: Efferson Mendes

terça-feira, 26 de abril de 2011

Estereótipo Rotina

O mendigo pede esmola.
O garoto “Coca-cola”.
A menina tá na moda.
O gordo tá de fora?

O que você tá fazendo?
O que está acontecendo?
O que você tá comendo?
Eu já não sei... JÁ NÃO SEI!

Relações enferrujadas
Consumo que não para
O povo diz: Pátria amada
E ela o desampara...

O sol ainda não raiou...
Já vejo o mártir trabalhador
O vermelho escorre pela rua
E um corpo despido d’alma sua.

Agora se compra beleza
Negocia-se o prazer
Liberdade aprisionada
Pela grade da tv.

À prostituta o perdão
Ao poeta inovação
À Deus a contação
Da história feita
Por nossa mão.

De: Efferson Mendes

sexta-feira, 15 de abril de 2011

De Janeiro...

Experiências Novas
Pensamentos Loucos
Desejos Claros
Homens de Marte
Mulheres de Lua
Camisa de Vênus
Tempo Nublado
Eu Desnorteado...

Paixão

O primeiro contato é o olhar
Bastante para se envolver
Se apaixonar.
A paixão é o prazer
Que nos dá a sensação
De liberdade.
Quando na verdade
Nos aprisiona
A alguém ou algo.
Não tente. Não dá pra escapar.
O segundo contato é a palavra
Te ouvir, te falar...
Tua voz doce me leva a sonhar.
O terceiro é o beijo
Dois desejos, mil sabores,
Lábios em conexão com pensamentos.
É bom. Dá um tom, uma cor e
Sabor aos sentimentos.
Com o beijo tudo realmente
Começa ou termina
E vira história ou não.
Depende de quem, de quantos
Beijou...
Depende de nada. Depende de
Um tudo. Depende de quem
Se apaixonou...
Mas não é o fim
Se não dá certo
A tristeza vem
Um outro dia vai...
Paixão nunca termina
Se multiplica
Troca fatores
Tem diversos resultados
Negativos, positivos,
Iguais, diferentes
E pra falar a verdade
Quando é paixão
Nunca se sabe até onde vai.

De: Efferson Mendes

terça-feira, 12 de abril de 2011

Dia Nublado

     Olhou a chuva que caía e desejou ter aquela força.
     Gosto de dias nublados. Dizem que chuva é como lágrima. Não concordo. Agora chove. A água cai fazendo um processo de lavagem. Lavagem espiritual. Renovação. Vida nova.
     Estava lavando meu rosto hoje. Gosto de lavá-lo quando acordo. Sinto a sensação de ganhar forças para mais um dia. Tenho a impressão de que os dias são os mesmos. Nós é que acordamos diferentes.
     Gotas de chuva são felizes. Atribuímos a elas tristeza e lágrimas pelo motivo de nossa sociedade ser assim. Se elas choram deve ser de felicidade. Já reparou na individualidade de cada gota da chuva? E mesmo com essa individualidade trabalham em conjunto. Deviamos aprender com elas. Cada humano tem seu papel na sociedade,assim como cada gotícula na chuva.
     Purificação. Me purífico todos os dias. Água é divina. Divino são os dias nublados que me trazem reflexões. Me abraçam com o seu frio envolvente. Nublado pode ser a anunciação da chuva. Uma gota é o alerta de que outras milhões estão vindo.
     A sociedade é dia nublado. Imprevísivel. Não dá para saber se vai chover. Se vai ser muito ou pouco. Apenas levamos o guarda-chuva.
     Somos gotas dentro de um conjunto de nuvens denominados estados, países,continentes que juntos formam o dia nublado, mundo. Acredito que estamos esperando o momento certo para chover trabalho em comunhão e renovar forças pra sobreviver no dia-a-dia.
     Dia nublado. Nuvens. A primeira gota caiu trazendo consigo uma tempestade...

De: Efferson Mendes

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Anjo

Era um anjo. Possuía beleza, asas de inocência e auréola da perfeição. Só não foi feliz.
Perfeita. Essa era sua definição. O que seria perfeição? Não sei, mas ela traduzia muito bem. Havia beleza, inteligência, bom trabalho e inocência. Inocência vale ouro nos últimos tempos.
Nunca foi amada. Se quer foi tocada com intenções de amor. Agora ela, já amara muitas vezes. Entregava-se de corpo, alma e asas na paixão. Era possível ver suas asas em suas relações, na hora dos seus beijos, em seus desejos e quando satisfazia seus prazeres. Sim. Havia uma auréola sobre sua cabeça, mas ela sentiu prazer.
Não tinha defeitos. Amores também não. Provocava inveja em algumas pessoas e nas outras, medo. Medo de machucá-la. Medo de não alcançar sua perfeição. Medo de ficar por baixo na escala hierárquica da vida.
Tão grande quanto sua perfeição era a infelicidade em que vivia. Ninguém percebia, pois era perfeita. Não conseguiu ser compreendida. Nunca será.
Seu corpo: simetricamente desenhado.
Seu trabalho: absolutamente impecável.
Última noite. Chorou litros, mas não conseguiu se afogar. Tomou comprimidos inteiros, mas não deu para envenenar. Traçou cortes mortais, mas não serviu para morte alcançar. Pena ela não sofrer de deficiências. Deficiências são instantaneamente humanas. Era perfeitamente em sua perfeição um anjo. Chegou ao topo do prédio onde morava. Ali ela conseguiu ser compreendida. Compartilhava a perfeição com a vista lá de cima. Sentiu o vento tocar suas asas. Aquela imagem lhe completava. Então, saltou... Por um segundo foi inteiramente feliz e amada de verdade. Transcendeu. Suas asas abriram vôo pela primeira vez e ela alcançou o céu.
Antes de ir deixou sua marca de perfeição no mundo. Agora o seu vermelho perfeito tingia o cruzamento mórbido por onde carros passavam.
De: Efferson Mendes

domingo, 10 de abril de 2011

Metamorfose

Rompeu o casulo, admirou suas asas e voou. Pois já não era a mesma.

Mudança, transformação, mutação, metamorfose, ebulição, solidificação, rotatividade... Você acredita em mudança? Ao retornar ao rio, o homem e o rio não são os mesmos. Adaptei de um filósofo. Eu acredito. Eu não sou o mesmo de ontem.

Ontem. Ontem vi uma borboleta. Ela estava voando livre e feliz. Suas asas eram lindas e pareciam seguir o ritmo de alguma música. Não consigo imaginar qual seria.

Estava me olhando no espelho. Ontem. Meu rosto já não é o mesmo. Ele possui agora uma infinidade de traços. Esses traços me lembraram os desenhos TRAÇADOS nas asas daquela borboleta. Com uma diferença, o meu rosto não possui mais um colorido. Pontuo aqui uma mudança. Mudança física. Um dia disseram que eu era uma lagarta e que em algum momento da vida sofreria metamorfose. Acordaria borboleta. Aconteceu. Eu acho. Só não encontrei minhas asas.

Eu sou metamorfose ambulante de Raul Seixas. Essa é a música que meu bater de asas seguiria o ritmo se eu fosse uma borboleta. Elas mudam a cada bater de asa e pairam no ar... Sabia?

A borboleta paira no ar. Nós humanos paramos na vida. Cazuza já dizia: O tempo não para. O mundo também não. Esse está girando, girando e girando... Igual a roda gigante. Só que ele não dá intervalos para descer ou subir. Rotação. Embora muita gente não lembre aprendemos isso no segundo ou terceiro ano do fundamental. Obrigatoriamente isso te causará mudanças. Mudança corporal, física e estrutural. As marcas do meu rosto são prova disso. O interno, o que se passa na sua cabeça, não muda tão fácil. Depende de você, dos outros... Depende de um tudo. No fundo, no fundo eu sempre fui o mesmo.

“Serei sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma sempre.” Quero entender, absorver, viver essa frase de Clarice Lispector.

Essência. Essa deve ser a palavra. Borboletas são borboletas, mas um dia foram lagartas que passaram por processos (mudanças) e embora tenham asas hoje, continuam com a mesma essência de antes. Você acredita em mudanças?

Sim, eu acredito. E se não encontrei minhas asa é que ainda sou lagarta. Estou em processo de transformação. Prestes a romper o casulo.

O tempo não para. O mundo está sempre girando. A vida é dinâmica e nós estamos nos metamorfoseando.

De: Efferson Mendes

sábado, 9 de abril de 2011

Ciclo da vida

  E fui sufocando aos poucos com todo esse ar cinza, livre arbítrio e tédio que a vida me ofereceu...
     Folhas. Não, não, não... Uma folha. Não queria muita coisa. Queria a beleza verde, a dança livre e o vento me acompanhando assim como as folhas.
     Hu-ma-ni-da-de. Hu-ma-no. Humano é divino. Humano tem pecado. Humano não é máquina. Kkkkkkk... Mas tem seus movimentos programados. Quando eu era criança ouvia meu pai dizer: "Eu adoro ser livre. Filha nós somos livres. Acabou a ditadura." Ele realmente era livre. Agora eu e mamãe vivíamos em cativeiro. Somos mulheres, descendentes de Eva, mas não comemos da maçã. A nossa liberdade se resumia: eu em ir para escola, mamãe ao mercantil e nós duas em almoço aos domingos na casa dos pais dele.
     Humano não é máquina. É aqui que eu estava? Sim, era aqui. A gente nasce, cresce, reproduz e? PAPOCA! Explode! BOOOM! Não, não é só isso. Existe atividades complementares. Estudamos para entrar na faculdade, ter uma boa profissão, ganhar sacos de dinheiro e sustentar o sistema. Depois casar, ter filhos e começa tudo de novo. Eles nascem, crescem, estudam, trabalham, sustentam o sistema, casam, reproduzem e CABOOOM!
     Eu só queria ser como uma folha. Eu fui uma folha. Eu sou uma folha. Fiquei presa na árvore até os vinte e um. A árvore disse que eu nunca seria feliz. Que eu dependia dela para manter meu verde.
     A vida é um tédio. Sabia? Isso me sufoca. Nariz entupido, asma, apnéia, falta de ar... Ahahahaaaarrr!!!
     Ser como uma folha verde que desafiou a árvore inteira. Que saiu do galho antes do tempo. Caiu na dança. Como parceiro teve o vento e se entregou. Dançou segundos eternos sua dança clássica, contemporânea, livre, leve, feliz... Como quem recebe algumas gotas de vida perto da morte para dizer adeus, ela tocou o chão. Ainda não é o fim. A folha agora terá seu momento de humana. Passará, agora, a depender dos movimentos de outros. Talvez de algum vento forte, de algum humano patético... O fato é que agonizando ela dará alguns saltos até se decompor, ser jogada no lixo, ser despedaçada... Eu sou uma folha. Nós somos folhas. Eu não quero ser folha. Eu sou humana, mulher. Não, eu sou uma árvore. Eu darei frutos. Árvores nascem, crescem, reproduzem e morrem. Eu não quero ser uma árvore!
     E fui sufocando aos poucos com todo esse ar cinza, livre arbítrio e tédio que a vida me ofereceu...


De: Efferson Mendes

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Luto

Todos os dias a mesma rotina
O sacrifício da vida
Pelo pão de cada dia
No trabalho, no estudo
Na vida a cada momento: Luto!


Luto pelos direitos negados
Luto para ir ao trabalho (no ônibus empendurado)
Luto, reluto, me indigno, fico puto!
Os acontecimentos atuais são motivo de luto.


A menina explorada, o tráfico de drogas
A promessa política, a luta armada
Tudo isso me indigna, me deixa de luto
E eu não posso ficar sem fazer nada.


Luto tem bala perdida
Luto tem guerra por comida
Luto acredito na vida
Luto com vontade de melhorar


A cada porta uma chacina
A cada quarto a realidade despida
Em cada casa a dor pela vida
É. Luto por mim, por ti e pelo meu amor.


Luto para objetivos alcançar
Luto para o mundo mudar
Luto para não me acomodar
Luto para transformar.


Luto...
Um dia entenderás
Tudo é possível e
O luto é uma maneira de protestar.


De: Efferson Mendes

Malquina

As sementes plantadas tornaram-se ramos e começaram a se entrelaçar no corpo da velha máquina coberta de ferrugem.
Me sinto mal. Me sinto malquina. Sinto que fui engolido por algo que tanto detesto, a pressa. Pressa é o que nos deixa menos humanos. É o que nos afasta das pessoas que amamos. Troquei pessoas e sentimentos por preocupações e fazeres.
Trabalho em casa. Trabalho da faculdade. Trabalho do trabalho. Trabalho extra. Trabalho extracurricular. Trabalho, trabalho, trabalho... Tra-ba-lho. T-R-A-B-A-L-H-O. Trabalho vem do latim trepalium que significava instrumento de tortura e apenas depois ganhou o significado de instrumento de crescimento. Só o trabalho dignifica o homem. Rsrsrs...
Me sinto pedra. Não sinto, estou petrificado. Tenho medo. Medo. Isso me torna mais humano? Não quero perder quem amo. Não pretendo ficar só. Começo a perceber o quanto estou duro, frio, apático e o tanto que está me fazendo mal. Estou pedra.
Estou plantando sementes que não quero colher. Vai ser difícil se eu continuar assim.
Terminou? Ainda não? Vamos lá. Como estão os relatórios? Já fez isso? E aquilo? Ligou para Fulano? Cicrano disse que não foi informado. Senhor Fulaninho está esperando. Envie o email até as quatro. Passou do prazo de entrega.
Coisas simples que eram importantes, eu não vejo mais acontecer. Comer e beber são agora atos mecânicos. Conversar com amigos? Em algum momento livre do feriado. Rir de bobagens? Não sei mais. Aniversários? Não consigo lembrar. Pensar nos outros? Isso é possível?
Consigo sentir a ferrugem me corroendo. Sinto-a nas minhas veias. Parece ter ganhado minhas articulações. Meus pensamentos e sentimentos estão sendo corrompidos. A ferrugem laranja toma parte de todo meu corpo.
Sou apenas malquina. Malquinas ficam ultrapassadas e começam dar defeitos. O ultra passado me condena. A culpa é do meu individualismo... Sou malquina que perdeu seu valor.
Calendários, relógios, ponteiros, ampulhetas, anos, semestres, trimestres, bimestres, meses, quinzenas, semanas, dias, horas, minutos, segundos, frações de segundos, milésimos, centésimos, décimos... TEMPO. Eu não tenho teeeeeeeeeeeeeeeeeeempo!

De: Efferson Mendes

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Humanos Bolhas de Sabão

Como uma bolha de sabão ganhou seu espaço e sumiu no tempo.

Um dia concordarão comigo. Seres humanos, nós, não somos bolhas de sabão.

Elas dançam em conjunto, lentamente no tempo e quando são percebidas no auge do seu espetáculo, somem.

Foi no centro da cidade. No meio de toda aquela multidão. Estava andando. Andando depressa. Não, eu não andava. Na verdade eu corria. Não percebia nada ao meu redor. Apenas a vontade de ultrapassar todos e de chegar à parada de ônibus me consumia. E inesperadamente um ser de transparência colorida arco-íris brilhante desimportante tomou uma atitude ousada e me beijou. Ai... Eu me senti humanamente amado por aquela bolha. Naquele momento todo mundo girava em câmera lenta. Meu coração voltou a bater. Agora existia sangue transpassando minhas veias. Naquele momento meu corpo tornou a pulsar.

Pla... E eu ganhei a vida. Profundamente amado. Carinhosamente tomado pelos toques sutis do ser de uma transparência arco-íris brilhante desimportante.

Toque. Tudo é questão de toque. Só me conhece quem me toca. Toque. Me toque. È permitido tocar. Sinta-me. Com cuidado. Lembre-se sou humano. Humano bolha de sabão. Me compreende agora? Tato. Sensibilidade. Humanidade. Abraço, beijo, cheiro, carinhos... Compreende?

Quero bolhas de sabão humanas. Quero toques sutis de surpresa, complexidade na dança, no viver e beleza simples. Não. Eu quero humanos bolhas de sabão que dominem a dança da vida, que tenham beleza simples e se entreguem inteiramente no toque, e despidos de sua transparência sumam no tempo, deixando a lembrança de quem intensamente amou e viveu.

Não é questão de tempo. É de sentimento. Não é questão de tamanho. É de intensidade. Bolhas de sabão. Bolhas. Dançam no vento. Somem no tempo. Simples assim. Pla...

Seres humanos, nós, não somos bolhas de sabão. Concordam comigo?

De: Efferson Mendes