segunda-feira, 11 de abril de 2011

Anjo

Era um anjo. Possuía beleza, asas de inocência e auréola da perfeição. Só não foi feliz.
Perfeita. Essa era sua definição. O que seria perfeição? Não sei, mas ela traduzia muito bem. Havia beleza, inteligência, bom trabalho e inocência. Inocência vale ouro nos últimos tempos.
Nunca foi amada. Se quer foi tocada com intenções de amor. Agora ela, já amara muitas vezes. Entregava-se de corpo, alma e asas na paixão. Era possível ver suas asas em suas relações, na hora dos seus beijos, em seus desejos e quando satisfazia seus prazeres. Sim. Havia uma auréola sobre sua cabeça, mas ela sentiu prazer.
Não tinha defeitos. Amores também não. Provocava inveja em algumas pessoas e nas outras, medo. Medo de machucá-la. Medo de não alcançar sua perfeição. Medo de ficar por baixo na escala hierárquica da vida.
Tão grande quanto sua perfeição era a infelicidade em que vivia. Ninguém percebia, pois era perfeita. Não conseguiu ser compreendida. Nunca será.
Seu corpo: simetricamente desenhado.
Seu trabalho: absolutamente impecável.
Última noite. Chorou litros, mas não conseguiu se afogar. Tomou comprimidos inteiros, mas não deu para envenenar. Traçou cortes mortais, mas não serviu para morte alcançar. Pena ela não sofrer de deficiências. Deficiências são instantaneamente humanas. Era perfeitamente em sua perfeição um anjo. Chegou ao topo do prédio onde morava. Ali ela conseguiu ser compreendida. Compartilhava a perfeição com a vista lá de cima. Sentiu o vento tocar suas asas. Aquela imagem lhe completava. Então, saltou... Por um segundo foi inteiramente feliz e amada de verdade. Transcendeu. Suas asas abriram vôo pela primeira vez e ela alcançou o céu.
Antes de ir deixou sua marca de perfeição no mundo. Agora o seu vermelho perfeito tingia o cruzamento mórbido por onde carros passavam.
De: Efferson Mendes

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