sábado, 9 de abril de 2011

Ciclo da vida

  E fui sufocando aos poucos com todo esse ar cinza, livre arbítrio e tédio que a vida me ofereceu...
     Folhas. Não, não, não... Uma folha. Não queria muita coisa. Queria a beleza verde, a dança livre e o vento me acompanhando assim como as folhas.
     Hu-ma-ni-da-de. Hu-ma-no. Humano é divino. Humano tem pecado. Humano não é máquina. Kkkkkkk... Mas tem seus movimentos programados. Quando eu era criança ouvia meu pai dizer: "Eu adoro ser livre. Filha nós somos livres. Acabou a ditadura." Ele realmente era livre. Agora eu e mamãe vivíamos em cativeiro. Somos mulheres, descendentes de Eva, mas não comemos da maçã. A nossa liberdade se resumia: eu em ir para escola, mamãe ao mercantil e nós duas em almoço aos domingos na casa dos pais dele.
     Humano não é máquina. É aqui que eu estava? Sim, era aqui. A gente nasce, cresce, reproduz e? PAPOCA! Explode! BOOOM! Não, não é só isso. Existe atividades complementares. Estudamos para entrar na faculdade, ter uma boa profissão, ganhar sacos de dinheiro e sustentar o sistema. Depois casar, ter filhos e começa tudo de novo. Eles nascem, crescem, estudam, trabalham, sustentam o sistema, casam, reproduzem e CABOOOM!
     Eu só queria ser como uma folha. Eu fui uma folha. Eu sou uma folha. Fiquei presa na árvore até os vinte e um. A árvore disse que eu nunca seria feliz. Que eu dependia dela para manter meu verde.
     A vida é um tédio. Sabia? Isso me sufoca. Nariz entupido, asma, apnéia, falta de ar... Ahahahaaaarrr!!!
     Ser como uma folha verde que desafiou a árvore inteira. Que saiu do galho antes do tempo. Caiu na dança. Como parceiro teve o vento e se entregou. Dançou segundos eternos sua dança clássica, contemporânea, livre, leve, feliz... Como quem recebe algumas gotas de vida perto da morte para dizer adeus, ela tocou o chão. Ainda não é o fim. A folha agora terá seu momento de humana. Passará, agora, a depender dos movimentos de outros. Talvez de algum vento forte, de algum humano patético... O fato é que agonizando ela dará alguns saltos até se decompor, ser jogada no lixo, ser despedaçada... Eu sou uma folha. Nós somos folhas. Eu não quero ser folha. Eu sou humana, mulher. Não, eu sou uma árvore. Eu darei frutos. Árvores nascem, crescem, reproduzem e morrem. Eu não quero ser uma árvore!
     E fui sufocando aos poucos com todo esse ar cinza, livre arbítrio e tédio que a vida me ofereceu...


De: Efferson Mendes

2 comentários:

  1. "Ser como uma folha verde que desafiou a árvore inteira. Que saiu do galho antes do tempo. Caiu na dança. Como parceiro teve o vento e se entregou. Dançou segundos eternos sua dança clássica, contemporânea, livre, leve, feliz..."

    Isso é muito profundo.. OMG. É maravilhoso esse seu dom para escrita. Parabéns,de verdade.

    ResponderExcluir
  2. Folha,humana, mulher,árvore.'Livre arbítrio e tédio que a vida me ofereceu...'.Então aproveite o tédio e faça a escolha certa,pois a vida é curta e deve ser bem aproveitada independente do que nos somos.

    ResponderExcluir